"AS TAIS FRENÉTICAS - EU TENHO UMA LOUCA DENTRO DE MIM"

Prefácio por Drauzio Varella

Esta é uma história que parece conto de fada. Seis mocinhas de classe média são contratadas como garçonetes de uma discoteca improvisada, começam a cantar por pura diversão, lotam a casa com gente ávida por vê-las, fazem teste numa gravadora, assinam contrato, gravam, são convidadas para todos os programas de TV e se transformam em sucesso nacional.

Em linguagem coloquial, Sandra Pêra faz neste livro um retrospecto da carreira das Frenéticas, grupo inesquecível de cantoras do final dos anos 70. Do início tímido, no espaço precário da Gávea em que foi instalada a loucura da "The Frenetic Dancing Days Discotheque", ao auge da popularidade na época dos shows pelos quatro cantos do país, até a dissolução do grupo, os acontecimentos são narrados em velocidade vertiginosa. O leitor não consegue desviar os olhos do texto.

Na carreira das Frenéticas tudo ocorreu de modo imprevisível. Da vida rotineira de meninas da zona sul do Rio de Janeiro para os aeroportos, hotéis, 300 mil cópias vendidas já no primeiro LP, shows, estradas, estúdios e a algazarra dos fãs apaixonados, onipresentes, as seis mocinhas imaturas e irreverentes que encantavam o Brasil experimentaram a sedução do sucesso e a contrapartida tirânica exigida por ele: "Explodimos, arrebentamos e não tínhamos tempo de absorver. Todo aquele sucesso só era possível com trabalho. Folga? Nem pensar".

Ao descrever o relacionamento com os colegas e amigos que estiveram envolvidos com o trabalho do grupo, a autora nos conduz pelos caminhos percorridos pela música popular brasileira daquele tempo. A presença da droga, as alegrias, as dúvidas, os encontros e desencontros amorosos expostos com delicadeza e liberdade conferem conteúdo forte emocional à narrativa. A autora resiste à tentação de capturar o interesse do leitor através da curiosidade pela vida alheia; a sinceridade permeia o relato do início ao fim.

Para matar as saudades dos que viveram aqueles dias, o livro traz as letras das músicas que mais fizeram sucesso. São irreverentes, despretensiosas, modernas até hoje.

Um dia, no final de 1981, as Frenéticas deixaram de arregimentar multidões: "Longe de ser uma tristeza, seguíamos profissionais, mas não arrebatávamos uma platéia de milhares, como era no início. Eu intuía que o fim estava próximo. O olhar das pessoas diante das Frenéticas era outro". A dissolução do grupo é tratada sem saudosismo nem lamento, mas com a visão fatalista de quem constata que a noite cairá no fim do dia.

Este prefácio, leitor, tem o objetivo de convencê-lo a ler este livro, escrito com habilidade num ritmo frenético por uma mulher madura que viveu os dias gloriosos do grupo enquanto adolescente, e que os descreve com paixão e sensibilidade, sem jamais lamentar que tenham chegado ao fim, mas com paixão e sensibilidade.


Capítulo 25

OS SHOWS
Tudo era muito espontâneo, nós ensaiávamos as músicas e só. Ninguém dizia como devíamos nos comportar. Eu tinha o teatro na cabeça e as lembranças de todos aqueles shows que eu ia assistir com o Nelsinho, principalmente os da Rita. Nunca tentei imitá-la, simplesmente lembrava o que eu sentia ao vê-la.

Só tinham três pedestais com três microfones. Tudo bem não fosse um pequeno detalhe - a minha altura. Éramos duas em cada microfone. Com exceção da Regina que é um pouco mais alta do que as outras, eu cantava quase ajoelhada ou a baixinha que estivesse ao meu lado, tinha que ficar na pontinha dos pés. Era a parte mais desagradável durante o show.
Foi um pequeno início de educação no palco.

Um dia nós nos desentendemos com um guitarrista que chegava sempre atrasado e era muito grosso. Regina estava uma fera com o cara e entrou séria em cena, de mau humor. Por acaso, neste dia minha irmã Marilia estava na platéia e no final do show perguntou:
- Por que a Regina entrou em cena com aquela cara? Não pode! Vocês é que saem perdendo! O público não tem culpa de nada.

No Dancin conhecemos um músico que mais tarde viria a ser importantíssimo na nossa carreira, e a alegria das nossas viagens: Rubens Queiroz Barra, o Rubinho, Ruban Barra, Ruban, a Rúbia. Era o nosso tecladista. Compositor de vários sucessos nossos e o maior de todos: Dancin Days. Rúbia, autodidata, nunca aprendeu música, toca de ouvido e é completamente surdo de um dos ouvidos. Ele nos acompanhou no Dancin todos os dias.

Servíamos no bar, arrecadávamos muita gorjeta e por volta da meia-noite tirávamos o avental (que era escondido em algum lugar, pois sempre tinha muito dinheiro), e subíamos naquele palco, que em pouquíssimo tempo virou a nossa casa. Descobrimos que o público gostava de nos assistir. Não sabíamos porque, mas sabíamos. Não éramos um grupo afinadíssimo. Afinal, um anjo doido fez a gente se encontrar no Dancin' Days, para sermos garçonetes. De repente viramos cantoras, e muitas nunca tinham sonhado com nada próximo. Aquela história de primeira voz, segunda voz começou a dar nó. Precisávamos nos familiarizar rápido com aquilo, nossas vozes precisavam harmonizar. O nosso Zezé estava longe, em São Paulo, acompanhado da sua Rita.

Colocamos muito aos poucos músicas novas, duas ou três. "Twist and Shout", "Back in Bahia", mas já ensaiando com o Rubinho. Tudo com muita imperfeição, mas parecia que ninguém se importava com algumas resvaladas, que me deixavam completamente louca. O que fazíamos no palco parecia ser tão interessante, que ninguém reparava nos erros. O público nos olhava com uma atenção que era difícil de acreditar. Quando o show acabava, o avental era recolocado e lá estávamos nós outra vez de bandeja na mão.

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